Foi numa noite de muito calor, em março de 1985, na maternidade do hospital evangélico, em Vila Velha, que eu nasci, com 3.800kg e com 50 cm. Pelo que vejo nas fotos e ouço de minha vó, mãe e tias, eu nasci muito linda, forte e saudável. Meu nome já estava escolhido. Seria mesmo Pollyanna. Minha mãe escolheu esse nome por causa dos livros Pollyana Menina Pollyanna Moça e Pollyanna Mulher, da autora Hellen Porter. Minha chegada ao mundo foi recebida com muita festa por toda a família. Além de meus pais, que ficaram vibrando com a chegada da primeira filha, também meus avós, por ter sido a primeira neta e, assim também, a primeira sobrinha. Enfim, fui paparicada por todos, sem modéstia. Eu era o xodó da família.

Quando completei meu primeiro ano de vida, meus pais fizeram uma festinha para celebrar minha existência. Convidaram toda a família, vizinhos e amigos e fizemos uma bela reunião na casa de minha avó. Todos estavam bem alegres. Com o passar do tempo, eu fui crescendo e gostava muito de brincar de tudo. Minha mãe diz que eu era muito dengosa, mas também muito ativa.

Como nem tudo na vida são flores, para se juntar a mim, nasceu minha prima Susana, filha da tia Ivone. Eu claro, quase morri de ciúmes. Por isso, sempre encontrava um jeitinho de fazê-la chorar. Ora com um beliscão, ora com uma tapa sem que ninguém percebesse, ora com um simples empurrão, deixando que a coitada se esborrachasse no chão e todos entendessem que foi uma simples queda.

Lembro-me da existência da minha tia Ivanir que sempre me tratou com muito amor e carinho e me dava muitos presentes. Aos cinco anos, minha tia Aparecida e meu tio Admilson se casaram. Eu, claro, fui dama de

honra dos dois. Estava tudo muito lindo, noivos, padrinhos e madrinhas, igreja e claro, eu também. Só que, por estar em local desconhecido e fazendo parte de um cenário como aquele, comecei um choro inacabável. Isso foi em Janeiro/1990.

Em março deste mesmo ano, completei cinco anos de idade. Mais uma festinha daquelas que reúnem famílias e amigos. Desta vez, em minha casa. De todos os presentes que recebi, ganhei uma linda bicicleta cecizinha, daquelas que tinha uma cestinha na frente. Era meu sonho. Fiquei super feliz. Nesta época, eu já tinha um irmão, Felipe, e minha mãe estava nos dias de ter outro, que nasceu em março e se chama David.

Antes de completar 06 anos, minha mãe me colocou em uma creche-escola, que não me recordo bem o local, mas foi onde iniciei minha alfabetização. De 1992 a 2001, concluí o ensino fundamental. Nesse período, passei por momentos muito bons e ruins, além de conhecer pessoas novas, fiz muitos passeios, sempre promovidos pela escola. Um destes passeios foi a ida à casa de uma professora, que promoveu uma experiência diferente com nossa turma. De 2002 a 2004, concluí o Ensino Médio. Em 2005 e 2006 comecei a trabalhar. Essa iniciativa foi própria, pois sentia que precisava fazer algo mais produtivo e útil em minha vida, além de contribuir com o sustento da minha casa.

Em 2007, passei na prova do CEFETES. Foi um processo de muita luta de minha parte, pois estudei praticamente sozinha em busca de um sonho que alcancei, porém, quase nem acredito que já estou realizando, pois ainda tenho pela frente mais 02 anos. Na verdade, nem me planejei para esse curso. Sabia que queria investir em um curso técnico. Na hora da inscrição, marquei Segurança do Trabalho, acho que até sem ler o que estava marcando. Porém, já busquei muitas informações sobre essa profissão e vejo que fui feliz com a escolha. Estou satisfeita com o curso, embora os desafios sejam enormes a ponto de quase desistir. Mas com a ajuda de parentes e da escola, ficou impossível essa ideia. Eu cresci muito depois de tudo isso. O CEFETES me proporcionou uma nova visão sobre a vida,

as pessoas problemas.

Aprendi a me relacionar melhor com os outros. Dentre todas as lutas, busquei junto ao Serviço Social da escola uma bolsa que me permitiu trabalhar durante um ano na própria escola, no período da manhã, uma vez que eu estudo à tarde. Claro que durante todos esses anos, meus pais também foram procurando novos rumos e motivações em suas vidas, ocasionando até a separação deles. Meu pai, logo em seguida assumiu um novo relacionamento, com quem hoje tem mais um casal de filhos. Minha mãe foi embora para o Rio de Janeiro e iniciou uma nova vida. Deixou-me, eu e meus irmãos com minha avó, que na época já era bem idosa. Com ajuda das minhas tias, Ivone e Ivanir, que sempre estiveram por perto, nos ajudando e não deixando que nada faltasse, nem para mim nem para meus irmãos.

Minha mãe, diante das dificuldades que enfrentou por lá, ficou bastante tempo sem enviar notícias, nos deixando muito apreensivos e preocupados. Também meu pai, por ter assumido uma vida nova, deve ter passado maus pedaços e acabou nos abandonando durante um tempo. Isso nos deixou muito tristes e até revoltados, porém, sempre fomos uma família de pessoas de fé em Deus e muito religiosos e a Palavra do Senhor nunca nos abandonou. Acompanhados por minha avó, todos os finais de semana, estávamos na Igreja. Ali, acabamos nos relacionando com outras pessoas, jovens, amigos e isso nos motivava quando percebíamos que não éramos os únicos a ter problemas. Meu irmão Felipe aprendeu violino e pintura, dedicou-se muito à música, fez planos para o exército, com vontade de se dedicar à carreira de médico militar, assim como nosso tio, porém, ele, ao ir visitar minha mãe no Rio, acabou ficando por lá. Entendeu que minha mãe estava precisando muito dele, uma vez que o David, já estava lá se tratando de uma doença na perna. Felipe foi com objetivo de colaborar com a minha mãe.

Senti muito a saída de meu irmão, pois a partir daquele momento, eu ficava
com a responsabilidade de cuidar praticamente sozinha de minha avó

que, a cada ano, ficava mais debilitada. Meu avô e minha avó nunca se entenderam muito bem e meu avô nunca morou direto conosco. Ele tinha outra companheira, porém dava assistência financeira a minha avó e se preocupava muito comigo, meus irmãos, minha mãe e tias. Há mais ou menos quatro anos atrás, ele já vinha enfrentando um problema de diabete muito sério, o que levou a falecer. Apesar de sempre ter sido um marido ausente, acabou falecendo dentro da casa de minha avó, em nossas presenças. Foi muito triste e doloroso para todos. Pois além de estarmos padecendo com o sofrimento dele, acabamos revivendo toda a sua história de vida. Era início de uma noite que chovia bem fino e presenciamos a retirada de seu corpo para os preparativos funerários. No dia seguinte, foi o sepultamento. Acompanhei tudo com uma tristeza sem fim. Minha mãe chegou do Rio em prantos e gritos, desesperada, acompanhada de um sentimento de culpa por todos os momentos que deixou de viver junto com ele. Depois de sepultado tive a impressão de que não iria conseguir sair de perto daquele lugar muito triste.

Relatar a minha história de vida, sabendo que alguém vai ler, me dá um sentimento de leveza, pois necessariamente acabei me lembrando de fatos que estavam guardadinhos em mim e que pensei nunca mais me voltar para eles. Mas estou me sentindo muito bem.

Sinto não ter tido ainda oportunidade de fazer outras coisas em minha vida como me dedicar a um serviço voluntário, por exemplo, ou prestar algum tipo de serviço comunitário, mas penso que, assim que eu tiver um tempinho, vou me dedicar a fazer visitas, em grupo, a asilos, hospitais ou abrigos de crianças e adolescentes. Já fiz apenas uma visita dessas e senti o prazer que é poder estar junto de pessoas tão excluídas da sociedade. Termino aqui minha história, desejando que ao lê-la, torça para que eu encontre força e coragem para enfrentar todos os obstáculos que surgirem durante minha caminhada.

Organizador: Mateus e Silva Ferreira. Histórias: Inesperadas, Diferentes e Especiais – Alunas e Alunos do PROEJA


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