No dia vinte e um de maio, de 1972, na maternidade particular Dr. Arnaldo, na capital Vitória, eu nascia depois de um parto bastante complicado, no qual minha mãe sofreu durante horas, devido à posição que eu me encontrava na hora do parto.

Passado o sofrimento, minha mãe relatou que todos ficavam impressionados ao me verem, pois eu era uma criança bonita, saudável e grande. Depois de certo tempo, fui acometida por uma crise asmática, a qual me impossibilitava de fazer qualquer esforço físico, por menor que fosse. Minha mãe me cercava de cuidados e por conta disso ela me proibia de brincar com as coisas que eu mais gostava, tais como: pique-pega, correr, pular cordas, jogar bola, tomar banho de chuva, etc. Ainda assim eu tentava levar uma vida normal e quando minha mãe não estava perto, eu brincava muito com os meus primos e primas de todas essas brincadeiras que, por serem proibidas, pareciam ser as melhores, porém nem sempre dava certo e eu começava a desenvolver novamente a doença, tendo de ser submetida a várias sessões de nebulizações ou até mesmo a internações nada agradáveis.

Eu e a minha família morávamos no bairro Inhaguetá, em Vitória. Nesse mesmo quintal moravam também minha avó com o meu avô, duas tias com seus maridos e cada uma em sua casa e os meus primos, do bairro Inhaguetá e os conflitos, por isso, eram quase que inevitáveis. Aos fundos deste, nós tínhamos um manguezal que era usado por toda a comunidade para a cata de caranguejos, ostras sururu, siris e outros. Quando a maré estava cheia, eu e meus irmãos passeávamos de bote ou de canoa beirando às margens. Tomávamos banho e pescávamos, era tudo muito simples e muito divertido. Em minha casa éramos em sete pessoas na época e eu era a caçula. Todas as atenções eram voltadas para mim e

quem era encarregada de cuidar de mim era a minha irmã mais velha, já que a minha mãe trabalhava em dois hospitais de Vitória como enfermeira e o meu pai também trabalhava muito como estivador no porto de Vitória.

Quando eu estava prestes a completar seis anos, minha mãe ficou grávida novamente, dando à luz, após oito meses ao mais novo membro da família Freitas. Porém, o regresso dos dois à nossa casa foi muito demorado devido a um aumento brusco da pressão arterial na hora do parto. A minha mãe entrou em coma, o meu irmão adquiriu infecções durante o parto e os médicos o desenganaram, ele ficou internado vários dias respirando com a ajuda de aparelhos até ganhar peso e melhorar para poder vir pra casa. A minha mãe recebeu alta antes dele, e depois de alguns dias, ela, junto com o meu pai foram buscá-lo. Ao chegarem em casa, recomendaram a toda família que tivéssemos o máximo de cuidado ao tocá-lo, pois a sua saúde era muito frágil.

Depois de tudo isso, com o nascimento de meu irmão, percebi que havia ganhado também um companheiro de brincadeiras, pois estávamos sempre juntos, tanto em casa como no quintal. Éramos unha e carne, e como se não bastasse, ele também era asmático e todas às vezes que ele tinha crises, eu também tinha e vice-versa, fora isso, tudo transcorria aparentemente bem. As condições financeiras eram boas, e meus pais eram felizes, pelo menos eles não davam a entender o contrário, mas aos doze anos de idade, meus pais separaram-se. Esse processo foi muito traumático, pois minha mãe entrou em depressão profunda e ficava trancada dentro de um quarto dia e noite, sem comer, beber, só fumando e chorando muito. Ela não tinha condições de tomar conta da casa e nem dos filhos, tornando-se uma mulher muito triste, e os meus irmãos mais velhos dividiam-se entre as tarefas de casa e os cuidados com a minha mãe. Meu pai, por sua vez, foi morar com outra família no bairro de Sto Antônio, que era próximo de onde nós morávamos.

O tempo foi passando e a minha mãe, graças a DEUS, foi melhorando. Meus irmãos foram se casando e por consequência a casa ia se tornando

vazia. A minha mãe, agora já recuperada, resolveu sair daquele lugar onde ela havia sofrido tanto para dar um novo rumo à nossas vidas. Mudamos, no ano de 1986 para Serra Dourada II, no município da Serra, onde ficaríamos bem longe de meu pai e perto dos meus irmãos, porém ele sempre arranjava um motivo para aparecer de surpresa com a desculpa de visitar os filhos e acabava ficando em casa com a minha mãe, fazendo nascer em mim e em meu irmão a esperança de que iria voltar para casa, o que nunca aconteceu.

Minha adolescência foi de muita rebeldia. Eu ouvia sempre a minha mãe reclamar de mim para os outros, mas eu nem ligava, eu dava motivos de sobra para a minha mãe se aborrecer comigo. Eu aproveitava o fato de que ela precisava ficar ausente a maior parte do tempo, trabalhando dia e noite para manter as mesmas condições de vida que tínhamos antes, e saia para onde eu bem entendesse. Não dava satisfação a ninguém e como a minha mãe não podia ficar em casa, ela trouxe para nossa casa uma sobrinha minha, que era filha de uma irmã adotiva, na tentativa de me prender mais em casa, pois a desculpa que eu sempre dava era a de que eu saia por não ter com quem conversar e ela tinha quase a mesma idade que eu. Até que funcionou a estratégia da minha mãe, e nós duas passamos a andar, sair, ir para a escola juntas, enfim não desgrudávamos de forma alguma.

Nessa mesma época, fiz muitas amizades no bairro e conheci, dentre esses, o amor da minha vida, e como tínhamos amigos em comum, a nossa aproximação foi inevitável. Minha mãe é óbvio que foi contra e tentou de tudo para nos separar. Isso só aumentou a intensidade dessa paixão, nos envolvemos ainda mais e, aos quinze anos de idade, engravidei do meu primeiro filho. Em meio a muitos conflitos com a minha mãe, resolvi ir morar na casa da família do meu namorado, que também era muito novo. Próximo ao nascimento do bebê, minha mãe se ofereceu para cuidar dele, com a condição de que o pai jamais se aproximasse. Fiquei muito decepcionada com essa proposta e me afastei totalmente dela, porém no dia dez de abril de 1990 fui levada ao mesmo hospital onde ela trabalhava para dar à luz e ela foi para a sala de parto assistir a tudo. Nessa hora, só me passava

pela cabeça a possibilidade dela roubar o meu filho. Tive medo que ela o
levasse de mim.

Eu e meu marido passamos por situações constrangedoras na casa da mãe dele e vimos isso como uma oportunidade para crescer. Então, com ajuda do meu irmão mais velho, que nos cedeu sua casinha, voltei a morar no lugar onde eu havia passado toda a minha infância, agora com a minha nova família. Não tínhamos quase nada para montar uma casa e só depois quando o meu marido começou a trabalhar é que nós começamos comprar as coisas para a nossa casa.

Em nove de julho de 1993, nasce o meu segundo filho, no mesmo hospital e a minha mãe também estava lá, só que agora me dando força. Meu filho nasceu com a saúde debilitada, e os médicos o desenganaram levando-o para uma UTI neonatal, onde ele permaneceu por doze dias, surpreendendo a todos com sua recuperação em prazo menor que o esperado.

Em treze de julho de 1997, nasce o terceiro filho, depois de um período conturbado no casamento, em que chegou a haver uma breve separação, mesmo assim, tudo acabou bem e o meu filho veio ao mundo com saúde. Porém, depois de algum tempo, ele passou a ter crises convulsivas que só pararam com o uso de medicamentos e de acompanhamento médico.

Em 1999, eu sofri muito com a perda de meu irmão mais velho, que foi acometido por um derrame cerebral fulminante, enquanto tomava banho. Ele deixou a mulher e quatro filhos.

No dia dezessete de fevereiro de 2000, nasce a minha tão desejada filha, linda e saudável. O seu nascimento foi motivo de alegria, pois era realização de um sonho tão meu quanto de meu marido. Depois do nascimento dela, no dia treze de maio deste mesmo ano, oficializamos a nossa situação e nos casamos.

Em junho de 2005, enfim conseguimos comprar a nossa casa própria e

começamos a reformá-la para que ela ficasse adequada para o tamanho da nossa família. Terminamos a reforma em dezembro do mesmo ano e nos mudamos para essa casa em Serra Dourada III, na mesma rua da casa de minha mãe, onde moramos por três anos. Vendemos esta casa porque não tinha quintal e compramos um terreno amplo, onde construímos a casa que planejamos, de acordo com a nossa grande família.

Aos seis anos de idade, fui matriculada na escola Regina Maria Silva, onde comecei a ser alfabetizada. Porém, pelo fato de ser muito tímida, o meu desenvolvimento na escola não era dos melhores, quando eu aprendi a ler ainda nessa escola li o meu primeiro livro que tinha como título “O livro de Elza”. Ao concluir a quarta série, fui para a escola Major Alfredo Pedro Rabaiole, onde estudei durante três anos.

Concluí a quinta, sexta e sétima série até me mudar para a Serra. Com a mudança pra a Serra, comecei a estudar na escola Elice Baptista Gáudio, onde comecei, mas não concluí o ensino fundamental. Depois estudei na escola Anna Gomes, terminando o ensino fundamental por intermédio do supletivo EJA, em 2007 voltei a estudar e passei na prova do CEFETES.

No período de seis de outubro de 2003 a dezoito de novembro do mesmo ano, concluí o curso de “Peças Íntimas”, promovido pela Oficina de Costura e Artes da Serra.

Em 2007, voltei a estudar na escola Elice Baptista Gáudio, agora cursando o supletivo (EJA), quando soube do curso Técnico de Segurança do Trabalho, do CEFETES, fiz a prova de seleção. Passei em segundo lugar e me ingressei no curso que eu sempre sonhei em fazer. No primeiro módulo apresentei trabalhos de história, geografia e qualidade de vida. No segundo módulo apresentei o trabalho de metodologia que trata da segurança do trabalhador braçal (operário) na construção civil. Também participei da apresentação das obras expostas para os visitantes. No terceiro módulo, participei do mini-curso saúde no ambiente de trabalho de sete a dez de outubro de 2008. Apresentei o projeto de metodologia na V Semana Nacional

de Ciência e Tecnologia, de vinte e três a vinte e cinco de outubro de 2008, e no mini-auditório do CEFETES, e apresentei trabalhos de história e de biologia.

Trabalhei por um ano como professora voluntária da escola dominical da igreja Assembléia de Deus, onde se formou um coral em que eu liderava as crianças nos ensaios e nas apresentações na igreja local e em outras, nas quais éramos convidados a nos apresentar.

Fui voluntária durante algum tempo da igreja do Avivamento Pleno, onde eu arrecadava alimentos para pessoas carentes. Realizei, com a ajuda de moradores, em 2004 um torneio de futebol de areia, em que o objetivo era ocupar meninos que ficavam ociosos na rua, com treinos. Em 2005, realizei o segundo, e agora em 2009, foi realizado o último torneio.

Pretendo apresentar um projeto para o presidente da comunidade de Serra Dourada III, para que haja um interesse maior em prol dos adolescentes do nosso bairro. Lá, o índice de criminalidade entre jovens e adolescentes é considerados um dos maiores do Estado.

Organizador: Mateus e Silva Ferreira.
Histórias: Inesperadas, Diferentes e Especiais – Alunas e Alunos do PROEJA


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