Nasci em 14 de maio de 1987, na cidade de Colatina. Na verdade, nascemos. Minha mãe, quando estava grávida não sabia que éramos meninas e nem que eram duas. Meu pai nem quis saber que tinha filho com ela. Ele simplesmente a deixou logo após ter plantado a semente, e não quis nem saber como minha mãe tinha ficado depois de tê-la deixado.
Minha avó soube que minha mãe estava passando necessidade e que estava sozinha, após ir atrás dela pra ter notícias de seu estado, vizinhas contaram que minha mãe morava sozinha, já há algum tempo e que ela já estava quase nos dias de dar à luz e não tinha ninguém pra cuidar dela.
Minha avó, na condição de mãe, não suportou a ideia de vê-la naquele estado, então a levou pra casa e cuidou dela até o dia do parto. Quando esse dia chegou, minha avó levou minha mãe para o hospital já quase dando à luz e o mais interessante é que, na hora em que estávamos nascendo, os médicos descobriram que eram duas e não uma como eles esperavam.
Segundo minha certidão de nascimento, eu nasci primeiro e, dez minutos depois, nasceu minha irmã. Os médicos ficaram muito felizes pelo trabalho realizado, mas o meu pai, quando soube foi até o hospital e não ficou muito satisfeito por serem duas e logo disse que se fosse ficar, seria só com uma de nós. Ele alegava não ter condições de cuidar das duas. Isso causou um grande conflito entre ele, minha avó e minha mãe porque, até meu avô, por parte de pai, disse o mesmo que meu pai tinha dito. Isso revoltou a minha avó mais ainda e ela falou que se não fossem as duas, não seria nenhuma.
Diante dos fatos, minha mãe devido a sua falta de condições físicas, mental e financeira, ela nos deu para as enfermeiras, que cuidaram de nós, uma pra cada. Quando minha avó retornou ao hospital, ela soube e ficou indignada
com a atitude de minha mãe porque ela já estava cuidando de dois filhos dela e cuidaria também de nós duas. Então, ela nos tomou de volta e disse à minha mãe que nós não éramos filhotes de cachorro pra serem dados assim e os médicos se comoveram com nossa situação e fizeram o nosso enxoval de bebê.
Quando fomos pra casa, depois de minha mãe ter se recuperado do resguardo, ela novamente “sumiu” e minha avó e minhas tias cuidaram de nós. Na época, minhas tias eram adolescentes, mas assumiram com êxito o papel de mãe, porque elas trabalhavam fora e quando chegavam iam cuidar de nós e nos levar pra passear.
Passados alguns meses, minha mãe retorna para a casa e resolveu que queria ficar conosco, mas nisso tudo ela já estava namorando o pai de meus dois irmãos mais novos do que eu e, nesse período, nós íamos pra creche enquanto, ela trabalhava durante o dia e quando chegávamos, na maioria das vezes, nós ficávamos na casa do nosso padrinho, que nos tratavam como filhas dele. Quando completamos sete anos de idade, começamos a estudar pela manhã na escola local e, à tarde, na cooperativa que tinha próximo à nossa casa.
Nós participávamos de todos os eventos que tinha na escola e na cooperativa, era muito bom e até mesmo engraçado em algumas situações. Da educação infantil até a quinta série, nós ficamos naquela escola onde começamos. Quando foi na metade da quinta série, minha irmã e eu tivemos que nos separar porque minha tia estava grávida do meu primo Adriel. Então minha irmã foi pra outra escola, na parte da manhã porque não havia ensino fundamental de manhã e foi essa a nossa primeira separação. No ano seguinte, minha mãe se mudou para outro bairro, um pouco longe e levou apenas eu e meus dois irmãos mais novos e, minha irmã gêmea ficou morando com minha avó. Confesso que chorei muito com essa separação porque eu não gostava de ficar longe da minha irmã e nem tão pouco da minha avó. Devido à mudança, eu tive que mudar de escola, mas, não me adaptei e, por isso, mesmo sendo longe, minha mãe me matriculou na
escola onde eu estava antes.
No segundo semestre do ano seguinte, novamente minha mãe se mudou e dessa vez foi pra mais longe e aí eu não tive alternativa, tive que mudar de escola de novo, onde estudei o final da sexta série e toda a sétima. No ano de 2001, fui morar em Carapina, no município da Serra, com minha tia, que tinha se mudado pra lá. Meses depois do nascimento do Adriel, foi uma experiência boa para o meu crescimento e foi também voluntária porque eu insisti muito com minha mãe para ela me deixar ir.
Em 2002, retornei para Colatina, mesmo porque a minha tia estava de mudança também. Foi aí que eu e minha irmã nos unimos novamente porque minha mãe estava morando lá no quintal da minha avó, em dois cômodos que meu finado avô ajudou a construir e onde ela mora atualmente. Pouco depois que meu avô tinha construído a casa de minha mãe, ele sofreu um derrame, no qual o lado esquerdo dele ficou totalmente paralisado, sem movimento nenhum e com isso, minha avó teve que cuidar dele. Os vizinhos se comoveram com o que aconteceu pelo fato dele ter sido um homem muito trabalhador e que estava sempre ajudando os outros. Mas, que por outro lado, ele era muito ruim comigo e com meus irmãos por que mesmo precisando de todos no estado em que se encontrava, ele nos maltratava com palavras. Mas nós nem ligávamos para o que ele dizia. Ele ficou quase dois anos naquela situação e, em agosto de 2003, ele falecera já sem nenhum órgão bom dentro de seu corpo e quando isso aconteceu, eu estava na casa de uma amiga na cidade de Águia Branca e me foi dada notícia por meio de um telefonema e, mais que imediatamente, eu retornei pra Colatina. Eu não o vi durante o velório por não gostar disso.
No ano 2004, eu estava cursando o segundo ano do ensino médio e estava atrasada em meus estudos por ter me reprovado no primeiro ano, 2002, quando eu ia iniciar o terceiro bimestre. Fui atropelada por uma moto, na cidade de Águia Branca, no interior do estado. Aquele homem que estava pilotando, estava bêbedo e queria assustar eu e minha amiga. Nós estávamos indo ao encontro da irmã dela naquela noite de sábado, foi por
volta das 6 horas da noite, na Br, na saída do município, com destino a Colatina. Naquele dia, eu achei que iria morrer só, porque fui socorrida por um carro funerário, que estava passando pelo local naquele momento.
Eu e o homem que me atropelou fomos levados para o hospital do município de Barra de São Francisco, que fica a cinquenta minutos de Águia Branca. Foi terrível e quando chegamos lá, me levaram pra tomar um banho porque eu tinha ficado completamente coberta pelo barro que havia onde eu tinha sofrido a queda. Foi horrível porque fazia muito frio e mesmo tomando banho, eu ainda tinha ficado com barro no cabelo que quase me deixou careca. Naquela mesma noite em que fiquei em observação, após o Raio-X, chegaram mais três homens que sofreram também acidente de moto. Durante a noite foi muito movimentado e eu mal dormi.
No domingo, logo cedo, os médicos colocaram uma sonda em mim para que eu pudesse urinar e depois colocaram outra e deixaram. Logo mais, minha amiga que estava comigo, voltou ao hospital, acompanhada de sua irmã e me disseram que havia comunicado à minha família o ocorrido e minha avó entrou em desespero, juntamente com o resto da família. No domingo, à tarde, fui levada pra casa da Andréia e lá fiquei até na segunda de manhã, quando fui levada pra Colatina, na ambulância da prefeitura. Em Colatina, foram feitos novos exames e depois, fui levada pra casa.
Durante dois meses, fiquei completamente imóvel, em cima da cama e um detalhe: a sonda que os médicos colocaram em mim causou uma infecção urinária, o que me levou ao uso de mais medicamento. As despesas foram pagas pelo homem que provocou o acidente. Ele tinha financiado as despesas porque não queria que minha mãe prestasse queixa dele, pois ele estava de casamento marcado, então, ele se responsabilizou com os gastos. Com isso, eu perdi o terceiro e quarto bimestre escolar e, por esse motivo, não voltei pra escola naquele ano. Em dois mil e cinco, eu tentei retornar, mas foi um fracasso.
Em 2006, comecei a trabalhar para uma empresa, mesmo sendo de
Colatina, ela realizava trabalhos fora da cidade e, por isso, eu não retornei naquele ano pra escola e nesse período minha casa estava em construção e eu precisava ajudar de alguma forma. Mesmo tendo contribuído pouco, a casa saiu e finalmente minha avó, depois de toda a sua vida, pode morar em uma casa de tijolo.
No ano 2007, eu estava trabalhando com minha mãe na fábrica de roupas e quando minha irmã comentou a respeito do processo seletivo do CEFETES para o segundo semestre, eu decidi fazer a prova, incentivada por ela que estava me motivando a buscar uma qualificação profissional e ainda concluir o Ensino Médio. Eu gostei dessa oportunidade e a segurei com garras de ferro, mas nós duas fizemos a prova e só eu passei porque, o dela por ter sido um curso superior, foi mais difícil do que pra mim, mas foi bom do mesmo jeito porque ela começou a trabalhar à noite no Hot Dog do Zache, onde ela trabalha até hoje.
Já quase no final de 2007, nós duas começamos a frequentar a Igreja Evangélica Batista, local o qual nós tivemos o conhecimento do evangelho e nos convertemos e nos batizamos nas águas. Desde então começamos uma vida cristã e passamos a valorizar mais as coisas de Deus.
No início do ano de 2008, conhecemos uma mulher por nome de Marileny que se tornou nossa amiga e nos ensinou muito a respeito da vida cristã. Nesse mesmo ano, nós fizemos a nossa primeira festa, em que foi comemorado o nosso vigésimo primeiro aniversário.
Durante o decorrer desse ano, uma vizinha nossa estava com sua filha no hospital. Ela estava com leucemia e em tratamento, com isso ela e seu esposo não podiam trabalhar porque eles tinham que revezar. A menina estava em Vitória e tinha mais dois filhos pra cuidar em Colatina. Eles passaram a viver da venda de bazar e de doações. Esta situação me comoveu muito então, eu decidi ajudá-la com cesta de alimento. Minha irmã e eu fomos atrás de alimentos, pedindo em todas as casas da vizinhança. Pedi no meu serviço e minha irmã pediu no dela e quem não ajudou com
alimento, deu dinheiro e assim conseguimos juntar, não só o básico mas sim uma bela compra, a irmã dessa mulher entregou a cesta e disse o quanto ela ficou feliz por ter recebido os alimentos e não sabia nem como agradecer e o mais interessante foi a felicidade que causou nas crianças quando a compra chegou e a alegria deles foi a nossa maior recompensa. Mas não parou por aí, antes da menina falecer nós havíamos feito mais cesta pra família. Eu e minha irmã ficamos satisfeitas em poder ajudar naquele momento.
No quase findar de 2008, minha amiga Marileny estava se mudando novamente pra Cariacica, que é a cidade dela, e fez o convite para eu minha irmã irmos com ela. No princípio, minha irmã ficou insegura quanto ao mudar, assim que foi tão repentina a proposta feita, mas eu hesitei um pouco e depois concordei em ir. Foi assim, decidindo ir com ela, minha primeira preocupação foi com o Cefetes. Eu não queria parar de estudar e nem trancar minha matrícula, então, fui atrás do processo de mudança de unidade, o que me causou muita angústia devido o enrolo do pessoal que trabalha nessa área da unidade de Vitória. Mas, por fim, depois dos muitos obstáculos que enfrentei, finalmente consegui entrar na instituição e o maior de todos os desafios quando cheguei foi saber que o curso era à tarde, o que me deixou com um pouco de dúvidas no início. Mas como eu tenho muita fé em Deus, resolvi deixar as coisas acontecerem em minha vida. Na verdade, o maior motivo de eu ter vindo morar em Cariacica e estar estudado no Cefetes de Vitória, que é o atual Ifes, é pra fazer a vontade de Deus, por que eu acredito muito em Deus e sei que foi ELE quem me trouxe pra cá para realizar a obra dele em minha vida e pra mim só existe essa explicação e eu sei bem que nada acontece por acaso em nossa vida.
Organizador: Mateus e Silva Ferreira.
Histórias: Inesperadas, Diferentes e Especiais – Alunas e Alunos do PROEJA
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