Eu, Maurício Alves Silveira, nasci no dia 17 de março de 1988, na cidade da Serra, no Estado do Espírito Santo. Nasci com 4 quilos. Era uma criança que só queria saber de mamar e dormir no colo da minha mãe. Infelizmente, só fui criado pela minha mãe. Meu pai é gaúcho e mora no Rio Grande do Sul, porém, não quis ter o trabalho de vir me conhecer no Espírito Santo pelo fato da minha mãe “fugir para o Espírito Santo sem ele saber”. Minha infância foi muito difícil porque minha mãe não me dava muita atenção, eu era gordinho, mas tinha bastante vermes e anemia.
Depois de alguns aninhos, eu fui para o jardim de infância. Foi muito difícil me acostumar a brincar em uma sala cheia delas, bagunçando o dia todo, mas logo eu consegui. Tinha uma tia que me dava muito amor e carinho, queria até me adotar, mas minha mãe não deixava. Morei com minha tia, dos dois anos até os meus sete anos de idade. Demorei muito para aprender a andar, mas graças a Deus eu tive um tio e uma prima que me deram todo apoio. Na verdade mesmo, eu aprendi a andar com os meus três anos de idade. Meus tios me davam tudo do bom e do melhor, porém com sete anos minha mãe me pegou de volta para morar com ela. Foi logo no começo dos meus estudos, com isso eu sofri e não conseguia aprender nada na escola. Eu tinha que me alimentar muito bem na escola, pois chegava em casa não tinha nada pra eu comer, com isso o tempo foi passando e só piorando as coisas.
Tive muitas dificuldades de aprender a contar, ler e escrever, mas o que era mais fácil eu consegui, fazer novas amizades com colegas de classe, mas infelizmente nós só ficávamos bagunçando na sala de aula, na maioria das vezes eu estava na coordenação levando “ocorrência”. Meus tios me chamavam atenção, já a minha mãe nem ligava para mim. Infelizmente, eu tive que aprender a contar, ler e escrever na casa dos meus tios mesmo.
Depois de alguns anos, eu estava melhorando nos estudos, mas uma colega de sala, me provocando e eu não me controlei e dei um soco na testa dela, em segundos cresceu um galo na testa dela e eu não sabia o que fazer e para aonde correr, quase urinei nas calças. Pensei que o pai dela iria me matar quando me encontrasse. A menina foi correndo para a coordenação e levaram-na até a diretoria da escola, lá ela mandou que me chamassem. Na hora eu falei que foi sem intenção, mas a classe toda foi a favor dela e contra a mim. Fui suspenso por duas semanas, pensei que iria ser expulso da escola. Infelizmente, mais um ano eu reprovei. Minha mãe não sabia mais o que fazer comigo. Ela me deu uma surra tão grande que eu quase morri. Chegou a ficar as marcas no meu corpo.
Minha mãe ficou pensando sobre o que eu mais gostaria de ganhar, então ela lembrou que um dos meus maiores sonhos, quando criança, era ganhar uma bicicleta e conversando comigo disse que se eu melhorasse o comportamento e passasse de ano na escola, ela me daria uma bicicleta de presente, “ufa”! Não foi fácil, mas eu consegui. Dediquei-me aos estudos e passei direto para o ano seguinte, mas com muita dificuldade. Incrível!!! Eu ganhei uma bicicleta, mas minha mãe quase não deixava eu andar nela. Eu cheguei a ir à escola com ela, fui passar em outro caminho para andar ainda mais, foi quando encontrei meus colegas tomando banho no mangue e não deu outra, larguei minha bicicleta e pulei no manguezal, na maior felicidade do mundo. Um dia, ao voltar para casa, minha bicicleta não estava lá. Não deu outra, apanhei tanto que chegou a ficar as marcas novamente no meu corpo.
No final do meu Ensino Fundamental, meus professores marcaram um grande passeio na Fazenda Camp, mas só iriam os alunos que se comportassem melhor na sala de aula. Eu fui um dos selecionados para ir ao passeio, fiquei muito feliz, chegando lá, eu só queria saber de ficar na piscina tomando banho, mas não foi fácil. Ao invés de eu ficar quietinho, eu ficava mexendo com os colegas. Quase na hora de ir embora, a mesma menina que eu dei um soco estava perto de mim, mergulhando e quando ela levantou, eu puxei o biquíni dela e ela ficou com os seios de fora com
todo mundo olhando. Na hora, ela não tinha percebido, mas quando viu ela ficou gritando e partiu para cima de mim para me agredir. Naquele dia, quem apanhou fui eu e ainda tomei outra suspensão de uma semana. Todos esses acontecimentos foram me afastando cada vez mais da escola.
Minha mãe, até mesmo meus parentes acharam que eu iria me transformar em um usuário de drogas ou até mesmo em um traficante. Minha tia me levou a um lugar muito bom e falou que eu tinha que estar lá sempre. Graças a Deus ela me levou à Igreja de Nova Vida, em Goiabeiras. Foi lá que eu aprendi muitas coisas boas e não me transformei em um usuário de drogas ou traficante. Lá foi onde eu fiz boas amizades e até hoje tenho como o meu amigo Nathan Masaki. Eu aprendi que a vida não é só brincadeira. Que Deus existe e nos ama como somos e faz tudo para nosso bem e que devemos amar o próximo como nós mesmos.
Um belo dia, eu estava passando em frente a uma farmácia e o proprietário me perguntou se eu me interessava em trabalhar com ele. Eu tinha dezesseis anos de idade, fiquei muito feliz e fui correndo falar com minha mãe. No outro dia, eu comecei a trabalhar como entregador da farmácia Ramos, em Goiabeiras. Passados alguns meses, eu estava me achando empresário e achava que não precisava estudar mais pelo fato de ganhar melhor que a minha mãe e também por não conseguir boas notas para passar de ano. Infelizmente foi uma das piores coisas que eu já fiz na vida, parar de estudar para trabalhar. Quando me dei conta, eu percebi que os estudos são muito importantes na vida do ser humano.
Achei melhor fazer um supletivo para terminar mais rápido o meu 1° grau. Ao terminar, eu fui para escola de 2° grau cursar o Ensino Médio, foi muito difícil porque eu não estava conseguindo aprender nada, aí veio o arrependimento de não ter me dedicado ao ensino fundamental nas horas de aprender a ler e escrever. Eu sempre era o último a entregar as provas, trabalhos e muitas outras coisas e o pior, nunca tirava boas notas. Com todas essas dificuldades, eu achava que não tinha jeito para mim e eu só queria saber de ficar jogando bola na quadra. Infelizmente, reprovei duas vezes. Era
uma vergonha para mim. As pessoas começavam a estudar e terminavam os estudos e eu ainda estava lá, tentando concluir o Ensino Médio. Na verdade, eu só ia à escola para jogar bola. Só ficava em sala quando as coordenadoras me colocavam na sala. Algumas vezes, minha escola fazia alguns passeios para os alunos conhecerem grandes empresas como a Chocolates Garoto e eu ficava me imaginando um grande empresário, mas sem os estudos era muito difícil vencer na vida.
Estudei nas escolas: Darci Castelo Mendonça, no ano de 1990, onde eu só queria saber de comer e dormir e tinha muitas dificuldades para brincar com outras crianças. Comecei a fazer meu Ensino Fundamental na escola de 1° grau Juscelino Kubitschek de Oliveira, no ano de 1994, onde tive muitas dificuldades de aprender a ler e a escrever, cheguei até reprovar na 2° série, o que foi muito vergonhoso para mim. Parei de estudar em 2003. Porém terminei em 2004, mesmo fazendo um supletivo na escola de 1° grau Arthur Costa da Silva, onde concluí minha 8° série. Depois fui para escola de 2° grau Arnulfo Mattos, em 2005 para fazer meu Ensino Médio, mas infelizmente eu fiquei estudando dois anos na mesma série e depois abandonei os estudos, mais uma vez.
Foi lá que meu amigo Nathan, que estuda no Ifes, o antigo CEFETES me falou sobre o PROEJA, e eu imaginando que não dava para mim pelo fato de não ter me dedicado aos estudos no passado. Mas de tanta insistência dele, eu fui fazer o processo seletivo, mas sem muita esperança no coração. Depois de ter feito a prova e ter percebido o desastre na prova, tinha perdido todas as esperanças que meu amigo tinha me dado. Ele não desistiu e falou que iria chegar um telegrama na minha casa. Foi quando um belo dia, estávamos na locadora de vídeo games, jogando e minha tia me ligou avisando que tinha chegado um telegrama para mim, logo eu e ele, não pensamos duas vezes e gritamos que eu tinha passado no CEFETES. Fui correndo buscar o telegrama e estava escrito: senhor Maurício Alves Silveira, comparecer no CEFETES em vinte e quatro horas para se matricular para o curso Técnico de Segurança do Trabalho integrado com o PROEJA. Depois disto, eu passei a valorizar mais os meus estudos e logo
consegui um estágio em outra farmácia.
Sempre comecei a fazer cursos, porém, nunca terminava. Já comecei também a fazer curso técnico de auxiliar de farmácia, mas abandonei também. O único curso que eu fiz e consegui concluir até hoje, foi o de Empreendedorismo, na Faculdade Fabavi, que concluí no dia 24 de maio de 2009, e os cursos que eu estou fazendo: Departamento de Pessoal, Biocombustível, Petróleo e Gás, na Faculdade Fabavi, que vou concluir em 2010. No Ifes apresentei meu primeiro trabalho em público com o tema, A Segurança do Operário da Construção Civil, em 2008, palestrei para os operários da construção civil e para a banca de professores no Ifes, no meu 3° período. Em julho de 2009, vou concluir a primeira parte do curso, com disciplina do Ensino Médio, no Ifes e em agosto de 2009 vou começar o Ensino Técnico e, se Deus quiser e permitir ser um ótimo profissional capacitado, mais uma pessoa que trabalhou e conseguiu vencer na vida e também fazer uma grande família, com minha linda namorada Fabiane Coser Laranja, debaixo da presença de DEUS. Mesmo tendo contribuído pouco, a casa saiu e finalmente, minha avó, depois de toda a sua vida, pode morar em uma casa de tijolo.
Organizador: Mateus e Silva Ferreira.
Histórias: Inesperadas, Diferentes e Especiais – Alunas e Alunos do PROEJA
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